Eu criança...
A gente acordava bem cedinho, ia à bica d’água e lavava o rosto, escovava os dentes, às vezes molhava o cabelo; os pés também ficavam respingados. A água fria era naturalmente normal. Às vezes a gente até tomava banho ali.
A bica era feita de um bambu grosso rachado ao meio fazendo uma caneleta, com várias emendas, que no percurso formava no fundo umas rajas verdes de lôdo e do lado de fora cresciam verdolengas samambaias e avencas onde as borboletas ficavam em montinhos.
Vinha lá de cima do pequeno riacho, trazendo a água na porta da cozinha. E outra parte dessa água descia para a engenhoca do monjolo.
E no banheiro, uma bucha vegetal aberta, costurada em volta com um arremate de tecido para que a mesma não desfiasse; pendurada em um prego na parede.
O ‘escoveiro’ era feito de tecido com vários repartimentos, e escovas de dente de todas as cores para não serem misturadas. Cada um com sua cor, às vezes nem era a cor preferida, porque era o papai que trazia da venda em pacotes pré-estabelecidos pelo fabricante.
Entre as escovas, bem no centro, um repartimento maior onde era colocado o ‘dentifricio’. ( o meu pai odiava que a gente o apertasse ao meio)
No chão, de piso grosso, uma lata, um copo grande, feito também com uma lata menor, no qual papai colocava uma asa para facilitar o manuseio na hora do banho e um recipiente que não me lembro o qual, onde era colocado o sabão de bola, que a mamãe mesma fazia.
A gente se arrumava para a escola; o sol nem havia saído ainda, a mamãe fazia café e misturava ao leite que o papai trazia da cocheira, tinha bolo de fubá, e aqueles biscoitos espremidos que ela guardava em latas para a semana.
Éramos quatro irmãos; eu e mais três meninos, como diziam as pessoas daquela época: a gente era uma ‘escadinha’.
Eu tinha quase sete anos... Era fevereiro, meu primeiro ano na escola...
Uberlândia MG
http://raquelordonesemgotas.blogspot.com.br/