Abismo de Mim
Nessa manhã despenquei no abismo de mim, do eu, do nada.
No fundo somos inócuos, sem vida, desprovidos de realidade interna, e essa grande descoberta vem quando despencamos - empurrados por circunstancia contundente- dentro em nós mesmo.
Somos rio sem leito, sem destino, e o nosso oceano é o vazio. O final de tudo já está materializado dentro de nós, por essa abstração horrenda que cabe tudo que não presta; por essa imensidão gigantemente pequenina que nos assola; por essa movimentação paralisada da observação.
Não temos saída. Não vamos dar em destino algum. Não há remédio.
A nossa única cura é admitirmos que nossa realidade interna é Ôca, apenas Ôca. Quanto as alegrias, prazeres e felicidades que julgamos possuir vez ou outra? Não passam de putas. Usuais, momentâneas, temporais. Podemos sobejar de prazer quando nelas, mas certamente choraremos de tédio a posteriori. Não passam de cobertor para nosso frio existêncial.
Não há jeito: prostituamo-nos com as alegrias da vida, sem esquecer que somos tão usados quanto elas, doces e prazerozas prostitutas. Vamos comprar uma ou podemos aquentar nosso abismo?