Encontro
Encontraram-se num café, por acaso. Ela, sempre distraída, absorta em seus livros, tocou-lhe o corpo sem querer. Envergonhada, desculpou-se sem lhe dirigir o olhar. Não era indelicadeza. Timidez somente. Sentou-se, perdida nalguma paisagem, enquanto aguardava seu pedido.
Ele a olhou como que desacreditado. Que figura era aquela, tão alheia ao que se desenhava ao seu redor?
Nela não havia beleza extraordinária. Pelo contrário, era bem comum.
Mas, a partir daquele instante, nada mais houve que lhe chamasse a atenção. Era somente ela: a mulher que lhe roubava o olhar do resto do mundo.
De repente, quis saber tudo sobre ela. Os livros que leu, filmes e músicas preferidos. Que cheiros e sabores ela deveria ter coletado em sua vida e quais trazia ainda guardados e por quê?
Demorou-se assim por mais algum tempo, até ser interrompido pela vibração do seu celular. Maldito aparelho. Era do escritório e precisavam de informações sobre o documento que levava consigo. Consultou os papéis e repassou os dados a seu chefe.
Quando pôde retornar à tarefa de pensar sobre aquela mulher, percebeu a mesa vazia. Ela havia ido embora e ele nem sequer pode mirá-la uma vez mais. Maldito aparelho!
Levantou-se. Procurou-a do lado de fora. Nem um vestígio.
Pagou a conta e seguiu para casa perturbado com a enigmática figura. Naquela noite, o sono também fugira dele. Passou as horas a sonhar, de olhos bem abertos, com o onde e o como estaria a mulher que bagunçara a sua tão organizada vida.
Voltou ao café no dia seguinte, no mesmo horário. Ela não apareceu. E assim foi nos outros que se seguiram.
Ainda hoje é possível encontrá-lo todo fim de tarde no mesmo café, perdido nalguma paisagem.