Só e louca.

No restaurante quando o assunto não faz mais rir, comecei a me questionar porque diabos eu disse sim, eu não deveria ter vindo –pensei.

Ele me olha e sorrir.

Sorrio de volta, mais ele não vê.

Aceno para o garçom enquanto encho pela quinta vez minha taça de vinho, e faço uma piada com meu senso de humor amargo :

- Sinto dores no peito

- Você está bem? –ele disse preocupado

- Faço sinal com a cabeca que não.

- Infarte? — ele pergunta

Eu rio.

- Da vida, minhas dores são da vida – disse.

- As dores da vida nos tornam o que somos Alice —ele disse ao segurar minhas mãos.

- As minhas me fizeram perde a identidade —repliquei retirando aquelas mãos estranhas e frias das minhas.

Existe dores que nos levam de nós –reforcei, ao perceber que ele não compreendia o que eu dizia.

- Quando foi que se tornou assim?

- Quando foi que me tornei dor?

- Não, sozinha.

- Eu não sei, eu não sei, foi de repente.

Silêncio..

- Eu não sou tão só assim, meu porteiro me da bom dia, o padeiro também, e minha mãe me liga todos os dias.

Ele me olha com pena.

Gargalho bem alto, quase cuspindo —ao perceber que meu segredo de ser só era o assunto, minha risada exagerada não ameniza minha possível solidão.

Ele me faz um pergunta enquanto confiro mais uma vez se o garçom está vindo — quero beber esquecer que amanhã acordarei só, esquecer que meu porteiro não me da bom dia e minha mae não me liga.

Ele me olhar com desejo ainda que eu não tenha sido sexy ou vulgar, fui exatamente o que todo mundo tenta esconder, talvez fosse isso o segredo das coisas ser você —mais ninguém nunca é.

Não eram coisas a se dizer e à ser em um primeiro encontro —pensei depois que o silencio se instalou novamente na mesa.

Talvez eu estivesse um pouco bêbada, mais o que eu dizia era sincero, eu estava sendo eu, mais ser eu assusta.

Finalmente o garçom chega, antes que eu pudesse pedir uma terceira garrafa de vinho, ele gentilmente pede a conta, tomando o restante de vinho quente e que ainda havia em sua taça, e diz:

- Eu acho que você é louca Alice— e me olha profundamente.

Procuro a carteira de Malboro dentro da bolsa e acendo um cigarro ali mesmo não me importando com o olhar de negação do garçom.

Pego minha bolsa me lavanto soltando fumaça por entre meio meus lábios que já não haviam mais cor, olho naqueles olhos que pareciam querer me desvendar e digo:

- Você é uma daquelas dores que me levam de mim.

E vou embora antes que ele pudesse ter certeza que eu realmente fosse louca, porque ser só eu já sou, e ele já sabe.

Walisson Fellevack
Enviado por Walisson Fellevack em 02/12/2015
Reeditado em 02/12/2015
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