VIDA E MORTE, DIA-A-DIA
Solto no quarto
Perdido na vida
Não mais ouço sons
Não mais cultivo o pascigo
Não consigo enxergar meus pés
Sou tormenta em dia pleno de brancas marés.
Procuro o berço, tarde de setenta e três
O calor frio e o aconchego do útero
Não tenho mais quinhão, nem papéis
Acho que a morte abriu sua gaveta
Sem campo de alvos lírios olorosos.
Vejo o porvir com ternos horrorosos
Abelha entrando e saindo com fel
Maldito seja o alho que não punge
A lama que não suja, o pato que não sabe de nada
Malditas sejam as noites, todas incólumes.
Cânceres de seda
Que, se não matam como deveriam, assopram
Postergando indigno fim
Passando a pena pelo debuxo vazio
E eu aqui em mim
Tentando encontrar na geladeira, o maço de cigarros.