VIDA E MORTE, DIA-A-DIA

Solto no quarto

Perdido na vida

Não mais ouço sons

Não mais cultivo o pascigo

Não consigo enxergar meus pés

Sou tormenta em dia pleno de brancas marés.

Procuro o berço, tarde de setenta e três

O calor frio e o aconchego do útero

Não tenho mais quinhão, nem papéis

Acho que a morte abriu sua gaveta

Sem campo de alvos lírios olorosos.

Vejo o porvir com ternos horrorosos

Abelha entrando e saindo com fel

Maldito seja o alho que não punge

A lama que não suja, o pato que não sabe de nada

Malditas sejam as noites, todas incólumes.

Cânceres de seda

Que, se não matam como deveriam, assopram

Postergando indigno fim

Passando a pena pelo debuxo vazio

E eu aqui em mim

Tentando encontrar na geladeira, o maço de cigarros.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 30/06/2007
Reeditado em 09/07/2008
Código do texto: T546673
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