Recrutamento Noctivago
Enquanto eu caminhava pela calçada do assombro, o olhar animalesco de um espírito noctivago fazia sombra sobre a minha sombra pequena nesta manha. Embriagado de medo, de vertigem, de suor, embebido no suor seco da alma, ouvindo o pulsar dos olhos por trás do coração, eu estava lá, na calcada, caminhando sem caminhar, estando sem estar.
O crucifixo já não fazia sentido, o noctivago, soturno, animalesco ainda estava lá, com a sombra sobre a minha sombra branca. O rosto do Cristo virou zombaria, escarnio, piada: diante do diabólico verdadeiro não é servil a mentira ilusória.
O noctivago venceu, e eu me dei por vencido, afinal, melhor perder de mãos dadas com as trevas a não vencer na soberba humilde da luz. Aquela sombra hoje sou eu, e faço sombra sobre outras sombras pequenas, recrutando, tal qual aquele noctivago que me assombrou, ainda mais soldados para o exército do inferno.