O MILAGRE DA ORQUÍDEA P&B

Ela nascera ali na mata, ao mesmo repente da poesia, a explicitar o instigante mistério donde nascem todas as vidas.

Sua missão era ser flor modelo, de colorida beleza singular, de petalada perfeição geométrica, de inexplicável arquitetura exótica sempre pentagonal; a extasiar o deslumbramento dos olhos, a inquietar a curiosidade das observações, a desafiar o conhecimento da ciência, a acelerar os corações distraídos, enfim, a intimidar todas as demais belezas de quaisquer jardins.

Nunca tivera tal intenção...

Paradoxalmente à sua essência simples, viera ela com majestosa e sábia mensagem de vida pois, embora planejada numa beleza explosiva e radiante, a sua humilde missão floral seria a de sempre desabrochar cores simbióticas ao silêncio mudo de todo castigado verde do caminho, as indescritíveis e majestosas cores da sua existência natural “ de passagem” , todavia , sem grandes necessidades básicas para a sobrevivência daquilo que já nasce pronto e auto-sustentável.

Teria de ser cor- de- flor. De pronto...e pronto.

E já lhe bastaria ter existido, ainda que na eternidade de um segundo.

De raízes firmes e exofíticas , sedentas e desbravadoras, algo delicadamente sedutoras como o pouso dum passarinho sonolento, expostas ao aconchego do acolhimento simbiótico e viçoso da mata verde, fora ela planejada para se guardar em conchas até que uma ordem superior dos céus lhe mandasse luz e água sobre suas folhas, e assim, lhe concretizasse em vida sua mística missão de reflorir exuberância para todo o efêmero de sempre.

Assim...sinalizaria fôlego compulsório e colorido às todas as trilhas ressequidas e desbotadas de vidas sentenciadas à existência verde.

Mas certo dia, assustada, despertou no cenário caótico das mãos predadoras que destingiram sua casa, e então, se descoloriu em tristeza P&B.

Precisava de socorro urgente.

Como parte já sincreticamente amalgamada ao todo do ecossistema resfolegante, imediatamente perdeu seu foco existencial a se socorrer na imortalidade das lentes inconformadas da ciência, para delas extrair o seu milagre de vida flor, como se dali sorvesse um alquímico elixir de sobrevivência: o da resiliente transformação.

Afinal ,não queria muito: queria apenas orquídea ser.

Orquídea era o que viera para ser.

Foi quando, de repente, numa primavera atemporal, rebrotou na tela, em única pétala de esperança “cor-de-rosa”.

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“Todas as opiniões que há sobre a Natureza

Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.”

Alberto Caeiro em “poemas inconjuntos”