Palavras têm vida...

Basta que cada letra antecipe um pensamento, muito mais por consequência de palavras que chegaram antes aos parágrafos, do que pela condução da caneta ou do teclado de quem escreve. Diga-se que os textos nascem de uma proposta que por vezes tentamos articular, mas que não raro nos surpreendem com a “fotossíntese das expressões". A luz caminha nas linhas, arrastando os sentidos que vogais e consoantes carregam com a leveza que meros mortais jamais poderiam conter.

Nós, no pódio de nossa pretensão, assinamos, sim, ao final da página, negando que – como tudo no universo – a vida se mostra por si, a exemplo da terra de onde tudo brota, como se o nosso plantio fizesse o milagre. Na existência, de cuja origem apenas podemos supor, vamos nos apoderando de tudo o que nos cerca. Com que direito? Ora, se ontem já não somos, amanhã, quem nos garante?

Não temos mais, nem menos, que os segundos de agora. E se já não somos o que passou, isso também serve aos termos que expressemos com o recurso que for. Se falamos, ouvimos ou grafamos, há que se admitir que as letras se acumulam de reflexões que tanto emitimos quanto captamos. Nos caracteres que contamos, vão-se os segundos do que já não somos. E se nos é negado o passado, como teimosamente desmente a História, vamos deixando por aqui tudo que já estava, junto do que a vida proporcionou.