O Começo
Minha alma não tem cor, mas ela sangra, chora, sente dor, sofre pela ignorância, crueldade, por falta de humanidade e gestos de amor. Não quero teu lamento, piedade, que me joga ao desalento, humilha, como se eu fosse um nada, na terra árida das injustiças e desamor. Sou o princípio, eva, em meu ventre te carreguei, pari, em meus braços dormiu, no meu peito se alimentou. Te fiz homem, o primeiro que por aqui andou. Cresceu e partiu, territórios vastos conquistou, continentes se fizeram, raças surgiram e você, da sua origem, do seu berço ao esquecimento relegou. Minha cor tem fome, morre aos pouco em seu próprio lar, doente agoniza, tomba ferida pelo preconceito, ganância daqueles que detém o imaginário poder dos mortais. Minha cor é negra, minha alma é como o vento, tocando tudo e a todos sem distinção, não importa onde estejam, irmãos. Não quero migalhas nem compaixão, mas sim teu sorriso, tua amizade, tuas mãos nas minhas mãos, teu olhar de irmão. Meu grito, talvez tardio, pede socorro a você alma sem cor, buscando seus braços estendidos, num abraço sem dor.
Quem sabe um dia, espero não distante, almas sem cor, sejam as únicas num planeta de amor.
Autor
Ademir de O. Lima