[Reincidências]

[Recrucifico-me, mas estou vivo!]

Reincidi, reperpetrei, recruzei:

sempre faço isto, reincido,

recruzo limites que me estabeleço,

perpetro ofensas contra meu santuário.

Meu templo... Minhas paredes caíram,

mas restam ainda alguns tijolos

ao rés desse chão de lamúrias;

nem em três dias o reedificarei,

pois não sou um cristo!

Todos os dias é isto, pratico

esta seguida autoimolação de mim,

esta crucificação do meu corpo;

quando terá fim, quando soará

a última batida do meu coração?

Se o Agora é isto, então, regurgito,

vomito este tempo, aqui fico na espera

da morte, da boa benfazeja morte;

na verdade, eu devia era de tirar

a sorte grande: comprar o coringa

e dormir em paz, com meus cerrados,

minhas capoeiras banhadas de luas de prata,

meus rios noturnos, caminhos de nem ser,

meus labirintos para inferno!

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[Penas do Desterro, 28 de junho de 2007]