A ousadia

Levanto-me da ousadia de um poema inacabado e decido jogar-me do alto, na lama, antes de planar por sobre o mar e render-me aos encantos do teu leito de enlaces sutis. Levanto-me, ergo-me dos parapeitos das janelas sujas e a solidão e o medo dos que me são iguais arrebentam o último delírio da poesia cega. Ouço murmúrios de guerra e teus lábios macios violentam meu corpo em chamas com o fogo dos que só tem o sexo como arma de coragem e diversão. Procuro sendas de acácias e o azedume frio do que não tem nome rasga minhas vestes enquanto procuro teu peito em prece suplicante, onde já não há palavras que me tragam cânticos nem me aninhem entre teus braços viris. A fome suicida do mundo aperta-me o peito e minha ousadia triunfa sobre a covardia que me surpreende. Talvez eu seja a única louca caminhante etérea das sílabas que busca o saber da tua boca que aflora sem amor neste salto, a única que se joga ferina nesse jogo voraz entre tua cama e o espaço vazio do meu corpo aberto.