Lágrimas de lama
Minas de Vila Rica;
Minas do ouro;
Minas de Tiradentes;
Minas Gerais.
Minas que chora. E chorando, derrama lágrimas sobre os túmulos de seus irmãos. Sobre os corpos nus e petrificados pela lama criminosa dos bilhões de dólares, euros e reais.
Corpos reduzidos a rejeitos. Rejeitos de gente. Gente sem graça. Desgraçados e minimizados a corpos.
Sem vida. Empilhados. À espera de uma identificação, de alguém para chorar. No aguardo de um fim minimamente digno em meio à tragédia humana da ganância. À espera de um fim após o fim.
As mesmas minas que te batizam também lhe fazem refém do medo. Ninguém será capaz de apagar as marcas de sua dor. Sangram-te há centenas de anos. Saqueiam-te há tanto tempo.
Estão lhe tirando a vida lentamente. Com crueldade. Abrem suas vísceras sem nenhum pudor e retiram sua alma a cada suspiro. Até o último vagão carregado com minério de ferro deixar suas montanhas pobres e nuas.
Quem disse que Minas não tem mar? Um mar de vergonha que Vale mais do que a vida de seu povo.
Minas que desenterra seus filhos para dar um último adeus antes de enterrá-los novamente. Lágrimas de lama, que escorrem nos rostos de sua gente brava e trabalhadora. De tanto chorar, as lágrimas tingem de vermelho o rio, outrora doce.
Pobre rio. De tanto sofrer, não tem nem força mais para desabafar com o mar. E agora, quem vai pagar seu enterro coletivo?