Camada de gelo
Entre nós permanece uma camada de gelo, ora mais fina que um papel e ora mais grossa, me impedindo de tudo o que me brota na mente, quase me desafiando a quebra-la. Não se sabe quem ou o que a produziu, se é minha timidez ou minha falta de jeito, se é sua apatia ou se cresceu do chão e do nada como erva que ninguém plantou... A questão é que: nem o calor do meu corpo ou da maior fogueira a derrete. Cabe a você destruí-la, despedaça-la em cacos ou em pó...
Então você continua atrás dela, adormecido, longe, tentando entender minha mímica e a minha loucura. Eu, às vezes canso, desisto, e a camada vira parede de pedra aos meus olhos. Mas daí uma voz me chama, e não sei se é a sua ou se é delírio, e eu volto como se nunca tivesse ido. Qual o nome disso, mesmo? Imbecilidade?
Não. Esperança. E pela primeira vez um sentimento – ou talvez um conceito - torna-se uma maldição.