2 . O Evangelho da Terra: A Remissão dos Pecados
Ele que voltava ao mundo mais uma vez, agora não para amaldiçoar, mas para anunciar o novo evangelho, se compadecia dos homens. Via como os homens padeciam das diversas mortes, auto-infligidas por suas necessidades diversas em um mundo extremamente simbólico, para que pudesse ser a matéria primordial dos desejos.
Extremamente concreto para que acreditasse na eternidade destas coisas, independente do mesmo ímpeto e desejos universais que o criaram. Estes mundos que criava e se destruíam o levavam consigo em sua morte, os diversos homens que os concebiam. O homem era um constante nascer e morrer, e sua alma a lembrança que se estende e acresce ao longo do tempo de que não poderá ser eterno.
Esta certeza que cresce em seu íntimo ao longo do tempo e se solidifica com as experiências e decepções. É a percepção de que o mundo não poderá sustentar seus sonhos, que não existe uma relação necessária entre o que sonha e o desejo do mundo, pois a terra não sonha a terra simplesmente existe. Quanto mais esta verdade se enraíza no espírito menos o homem sonha e mais rápido se aproxima da morte. O sonho é que anima os corpos dos homens.
Esta eterna luta entre a matéria primordial dos sonhos, que luta em ser concreta e que se alicerça na concretude ilusória, e a terra é que gera os pesadelos também. Por que os sonhos também de se degeneram, por que os símbolos se sustentam nos desejos diversos, as vezes controversos as vezes comuns. Neste último caso chamamos de felicidade, no primeiro chama-se sofrimento.
Toda morte, raiva, ódio e desejo de aniquilação surgem disto. Quando o homem briga com a matéria misteriosa existente no outro, que insiste em destruir seus sonhos, a negar-lhe o sustento simbólico e a doce ilusão de acreditar ter encontrado a chave entre a matéria obscura e os símbolos que tanto amamos. Esta guerra contra a carne, que nega o ideal e não compartilha a beleza, é antes um conflito contra si mesmo, contra a terra. A resistência apaixonada a realidade que o outro mostra através da impressão que causa em si.
O mesmo artifício que usamos para tornar real nossos ideais será o mesmo que fortalecido, fundamentará os pesadelos, pois nem tudo que se sonha é bom, por que o outro também sonha e muitas o que você se tornará para ele e o seu papel no seu mundo não será o que deseja. Tanto mais ele desejar, mais te aprisionará neste pesadelo. Não sonharás mais, antes serás escravo destes símbolos. Eternizados pelo desejo e energia com o qual o outro sustenta os próprios sonhos contra ti mesmo.
Chamo a isto de Segunda Morte, pois o homem nem nasce mais de si nem morre mais em si. Ele é aprisionado no sonho ou pesadelo do outro. Tal homem não se inventa mais e nem se destrói, sua mente não é mais sua e nem seus sonhos.
Este homem que não é mais o portador de si, nem tem parte com a terra e nem esta com ele, pois não passa de um instrumento do outro. O pastor e não o rebanho receberá o galardão, pois tu mesmo és a arte dele, tu mesmo é fruto da inteligência e da perspicácia com o qual o outro cultivou em ti seu próprio pensamento.
Tal homem é como a semente que não germinou ou planta que não floresceu. Ele não é tão homem como os outros e não pode servir a terra. A terra não deve ser buscada nos céus, nas matas ou nos mares. A terra deve ser buscada em si mesmo. Alguém te separou dela para que desdenhasse dela e colocasse em seu lugar mundos fictícios, por que se não serves a terra, ao destino que preparou para ti, com certeza servirá a corrupção implantada dentro de ti pelo outro, que insiste em ser o único realmente humano, contra ti, que é dado como escravo para servir a sua humanidade.