Deves Continuar...

Tenho passado os dias rendido pelo tempo, sem saber ao certo o que ele fez comigo, enquanto me distraía com vinho barato e amigos pela rua. Sim, me vesti de soldado e fui revoltado, e nem isto bastou para silenciar a voz do tempo que sempre me diz que não foi o bastante ainda.

Sempre converso com fantasmas e eles sempre me falam da morte, por isto aprendi a viver. Tive lendo um livro velho e nada descobri, a não ser o que aceitei inventar. Ele me disse para deixar de ter medo e que ninguém esta certo e todos podem seguir em paz o seu caminho. Mas contei-lhe sobre quantos andam ainda acorrentados e ele me disse que era pelo medo que eu não tinha mais e não mais poderia compreender.

Havia entre nós um enorme livro e perguntei se era este o que deveria ler. Ele me falou que se eu percebesse as coisas como aquele que edifica a casa e percebesse que cada significado é como a pedra na mão do construtor, eu finalmente estaria liberto. Olhando tijolos, telhas e azulejos nada pude ver, mesmo quando olhava o sorriso daqueles que seguiam por suas procissões noturnas atravessando as ruas.

Olhei novamente para ele e não vi mais o tempo. Tive medo novamente, mas não do tempo ao qual me encontrava cego, mas do fato do meu grande amigo não passar de um fantasma morto a 60 anos atrás. Sua foto na capa me lembrava do terrível compromisso de não poder ser mais ingênuo, de quem dizia: “deves continuar, deves continuar...”

Mais uma vez estava envolto com meus livros e cadernos, naquele diálogo silencioso o bastante para não acordar ninguém, mas o suficiente para não me deixar dormir aquela noite.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 30/10/2015
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