Evangelho da Terra: vocação profética da Terra

Me refugiei no embrião imaginário da terra. Seu âmago quente longe dos homens, das serpentes e das feras que vivem na floresta. Quero fugir das palavras, das prisões imaginárias que perseguem os que são livres. A liberdade talvez não venha pela palavra por que dela vem tudo que é humano. Toda ideia também é uma prisão. As suas lutas e mentiras se dissolvem na dor e no sangue que flui para o chão. É a terra meu caro, que clama por teu sangue, por que tu és dela, e ela requisita o que é seu. Cada gota de sangue, todo o suor e lágrimas tudo pertence a ela, a enorme mãe que nos gerou e que aguarda silenciosamente por nossa volta.

Sobre teu seio desenrola a dor do parto, onde os homens recebem a luz do Sol, para que possam, desprendidos de seu útero, caçar, plantar e comer. Seu silêncio sela milhões de anos em que não andávamos sobre este mundo. Milhões e milhões de anos até que as primeiras formas de vida aparecessem.

“Eu sou a terra que te recebe! Por que me chamas se sabe que és meu, que de mim não pode escapar a não ser pela sua imaginação que também me pertence?” Eu sou o homem teu filho, vim ao deserto para profetizar contra os homens. Não te amaldiçoo, mas amaldiçoo sua criação.

“Aqui nada valerá suas túnicas, símbolos e retórica, por que tudo isto me pertence, mas foi dado a ti por um tempo, até que um dia até isto lhe seja tomado, a mim devolvido”. Sei que diante de ti não posso mentir, nada novo posso anunciar diante de ti. Desejo ser por ti acolhido para que possa amaldiçoar o homem, tua criação.

“Se deseja ser acolhido por mim, esqueça os homens. Saiba que tudo que fazem me pertence e será um dia a mim devolvido. Não me importo que briguem ou se matem, por que voltarão de qualquer forma para mim. Sois como uma parte de mim, a mais vaidosa, um momento da minha longa jornada, não importa o que façam.”

Terra, tudo é símbolo, é esta foi a maldição que lançaste sobre nós: “Perambularás pelas desertos e florestas, navegará os mares, mas não me encontrará a não ser pelos símbolos que ostentarás dentro de ti, antes que me veja, verá a própria imagem de ti refletido em tudo que há, por que assim eu quis que fosse. Para que fossem unidos mesmo contra a vontade. Tua maldição não desfará isto, por que ela também pertence a mim, por que veio de mim.”

O que faço eu profeta que vim para amaldiçoar os homens justamente por que não te merecem? "Dizei a todos eles a sabedoria que eu lhe ensinar, nada direi nem te mostrarei, mas saberás encontrar em ti a minha presença e saberá falar por ela. A terra que se encontra dentro deles saberá entender o que a terra dentro de ti tem a dizer”.

Eu que pelas andanças entre os homens de todos os tipos buscava a maldição sobre eles e seus construtos, acabei incumbido de levar a eles a voz da terra que só pode ser dita quando falamos de dentro de nós a partir da terra que há em cada um.

“Por que me chamastes, e eu vos ouvi, por estou dentro de ti assim como esta dentro de mim. Eu sou a Terra que por meio de seus símbolos fala ao que busca e é indiferente, segundo suas leis que sobre todos pesam. Vá e não te esqueças que mas uma vez ainda estarás comigo e eu te orientarei, antes que não mais te possa falar, voltando ao silêncio de seus símbolos.”

Assim segui meu retorno aos homens, para que recebessem a mensagem da Terra, para que ela falasse consigo mesma através destes seres animados e primitivos, tão imersos em seus mundos simbólicos, que mais cedo ou mais tarde serão absorvidos por ela, definitivamente.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 30/10/2015
Código do texto: T5432189
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