Explosão da Esperança
É forte o que lhes direi, pois apesar desse doce reinado da primavera o inverno extemporâneo teima em queimar a minha pele e congelar os glóbulos que circulam na periferia do meu corpo.
Bem que a esperança me visitou e me avisou que iria viajar.
- Para onde você vai deixando-me aqui sozinha? - disse-lhe, com o fiapo de voz que me restava.
- Vou buscar outro coração que me hospede e acolha, onde o mar esteja sereno e o porto receba mais barcos com peixe farto do que bocas que se despedem, mãos que se desentrelaçam- disse ela.
- Não tenho culpa se meu céu colorido sofreu rajadas turbulentas e desbotou, se minha aquarela caiu de minhas mãos trêmulas e se partiu tal qual os meus sonhos de cristal - argumentei infrutiferamente.
- Voltarei no dia em que conheça a maturidade para não julgar o outro. Provarei os aromas dos bosques que reverberarão desde o fundo da mata fechada, intocada - até o nascedouro dos córregos que trazem a bênção que pode transbordar pelo canto do olhar - disse ela comovida.
O certo é que quando o passado passou e daí procuraram o presente, já era futuro no horizonte...
Não se sabe se era muito cedo ou tarde, mas a esperança explodira deixando oitocentos fragmentos salpicados no solo. Sim, aleatoriamente acontecera um milagre ali, eu catei alguns, plantei-os cuidadosamente em meu canteiro e na próxima estação esses brotos de esperança estarão crescidos, fortes, serão colhidos e doados para quem ainda acredita que o cacto também produz flores...