A menina-esfera e a vaidosa-submissa (vínculo-não-proposital com Baudelaire).

Observemos, criatura, quais são os motivos que a arrastam sobre minhas cascas cansadas e sem dor; qualquer um que a observe, tratará desse seu ar com desprezo - como se fosse uma mendiga roendo moedas de metal carbono pra que seus dentes fiquem negros.

Ao menos, mendigos legítimos idealizam suas riquezas, e não as roem. Você espera por sangue ou fruta, jorrando as palavras como saliva amaldiçoada: "Eu quero o sofrimento! Abate-me, e morda-me com mil pedaços do sulco na sujeira do mundo!". Sua cabeça em rotação, mostra-me efeito; poderia ajudá-la, por alguns lamentos, ferros e correndo riscos agradáveis na minha cadeira de vime.

Perceba: há de se pedir bem mais do que se tem (sempre); como a corrente que adorna o teu pescoço pede as fibras da liberdade, hei de jogar um graveto às patas abaixo do teu queixo torto - os imbecis olhos da besta com dentes negros, fingem beleza; quase comovem.
O diabo irá lhe lançar favores; alguns, então, louvar-te-ão como "salvação" no meio de vida inoportuno. Somente um, o que chegou a "indivíduo refletor", poderás dar permissão à besta, fazendo-a cumprir o desejo mór de um voyeur, apagando cigarros nos lábios nus da menina que finge gritar por socorro.

E de lá, representa o espetáculo que defendo: como são clássicos os golpes da menina em seu prório pescoço, e como são submissas as lâminas pela adoração. Observem como a cabeça se desloca, e quão bonita ela quer ser! Como debate-se, mordendo os vãos dos ouvintes pelo seu grito de freira!
Há, ainda, aquele mesmo que, com um quase-chicote, a faz suspirar de prazer; sente-se o couro da dor, e a besta grita (quer dizer, a menina).
"Vamos! Apanharás tudo o que podes, e se manterá viva!" - diz aquele do chicote; e os lábios, inchados pelas queimaduras, agora expressam um sorriso irreconhecível.

Terias ficado muito bonita, se o espetáculo não fosse vaidade.
Olhar, já só não basta; já se tem o chão da promiscuidade, e lá, a vaidosa descansa pro seu diário benefício - pensa escrever verdades, quando pede e se lamenta; e a cabeça gira novamente, onde a vaidade lhe compra as córneas de sua própria direção.

O que poderia eu enxergar naquela carne sendo batida com um martelo? Vamos seguir em frente, pois aprendeste a apanhar mais hoje do que ontem, e o teu grito não ensurdeceu ninguém; todos são altamente desgraçados, mas eu pisco pra isso, já que o seu inferno é prazer; em um sexo escondido, buscas auras perfeitas. Que inebriante enumerar!

Ali, no canto, pego meus lamentos, meus ferros, e sento-me. Paga-me pelo óbvio, nada mais. Tua riqueza nasce e morre nos barulhos escondidos, e não há nada que os outros possam dar-lhe em troca dessa sufocação maldita; dão-lhe comiseração, olhos loucos e bocas - não há ouvidos e nem coração.

Pra todos, na verdade, bastam-lhes a tua falta de respeito.
De qualquer forma, vendo-a assim, regredindo e colando as bochechas no úmido degrau, quase posso gritar de satisfação. Se não estás, ainda, depredada com tua moral, ficarás mais perversa e ambiciosa; implorará por água, quando queres beber leite - e pensarás em rendas e filhos, como qualquer mulher dessa espécie.

E eu, por mais que a descreva, sou mais convincente impressionando alguém, do que és vendendo a tua carne, gozo e falso temperamento doente. Se as suas ridículas vaidades continuarem persistindo, merecerás mais podridão do que platéia - o que eu, inclusive, posso providenciar de imediato; e virás até onde eu ordenar, como uma esfera platinada e suja, esperando um rosto pra que eu a reconheça.
Lainni de Paula
Enviado por Lainni de Paula em 28/10/2015
Reeditado em 30/10/2015
Código do texto: T5429460
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