O quarto de Anastasia
Desde que Anastasia se foi certifico-me de fazer com que seu quarto fique do mesmo jeito que ela o deixou.
O imenso espelho de sua penteadeira, na frente do qual ela passava horas escovando os sedosos cabelos negros à perfeição, permanece límpido e cristalino como ela gostava.
Todas as suas roupinhas, mais dignas de vestir uma boneca de porcelana que um ser humano, passadas e guardadas em seu armário, exalando aquele seu característico perfume tão querido ao meu coração.
Os brinquedos com os quais ela não brinca mais, mas que ainda assim zelavam por seu sono à noite, e seus inúmeros livros, estão intocados e alinhados na estante.
Cuidado particular vai à cama, grande e espaçosa, na qual nos sentávamos e, segurando minhas mãos, ela deixava que eu fitasse seus glaciais olhos nórdicos, nos quais via refletidos os espectros das auroras boreais de sua terra natal – olhos que, talvez, jamais voltarei a ver enquanto viver –, e até a noite cair ela me iniciava nos mistérios de Freyja e contava-me histórias de valorosos guerreiros vikings.
Outrora um santuário no qual repousava a minha alegria, o quarto de Anastasia é agora uma casca vazia que reflete minha alma – mas ainda assim gosto de certificar-me que fique do mesmo jeito que ela o deixou, caso um dia ela resolver voltar a mim.