O que faz, todas as manhãs, os pássaros saírem de seus ninhos e poleiros? E os peixes incansavelmente, sem turnos e em turmas, nadarem? E a aranha pacientemente solitária e imóvel em sua teia esperar?
Anteriormente à sobrevivência, a simples existência.
Existimos.
Que força é esta que nos leva agir?
As reações químicas provocadas pelo movimento.
O motivo de um não é o mesmo do outro. Tudo parte do foco, da concentração própria. E anteriormente, a imagem da ação, imaginação.
Foi assim que o final daquela cartilha de alfabetização me fez projetar o seu dizer “o menino de hoje, o homem de amanhã”. Lembro-me do menino em sua carteira imaginando o homem. O que faria e o que seria?
Em casa o pai repetindo discursos de feitos portugueses na descoberta de continentes. Na escola ele, o menino, confirmando para si mesmo: vou ser navegador e descobrir mundos.
Em casa ele assistindo o seriado “O Túnel do Tempo” e na escola constatando processos históricos. Queria desbravar florestas e descobrir caminhos: achar o verde das esmeraldas e o amarelo do ouro.
Que reações ocorrem no cérebro e nos faz pensar?
Pensa-se tanto que em vez de diálogos prefere solilóquios. Em vez de discussões, a solitária escrita. É na solidão que ele se faz sólido. Solidão é solidez de convicção. Para não perder a razão, ele escreve, entrega-se a sua particular loucura: obsessão.
Escreve porque simplesmente foi motivado, na escola pela qual passou, com exercícios de escritas e leituras. Não é nenhum dom seu e muito menos força espiritualista – se põem a toda forma romântica.
Abaixo o gramaticismo e o beletrismo. Seu espírito, modo de pensar e não entidade que forma seu Eu e muito menos alma, é livre de toda força e poder. Abaixo o ritualismo. Religião e espiritualidade são só fôrmas e formas criadas pela cultura para entender as reações advindas do pensamento: ligações elétricas.
Tudo advém da necessidade de sobreviver para existir.
Os pássaros voam para comer. Os peixes nadam para se alimentarem. A aranha para apanhar outros incautos insetos. A natureza é cruel e toda beleza é camuflagem do que é rude: a terra que produz alimento e se sustenta de todos – tudo é reação química.
A humanidade escreve para dominar outros com mentiras que julgam verdades: ideologias.
Escrevo para juntar fragmentos de mim mesmo: pedaços que se partiram na dureza da existência.
Tudo é motivação!
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre e nem sou triste. Sou Poeta! Motivo* em versos livres.
É a homenagem aos que respiram Poesia – escrevem e leem poema – pelo seu dia de 20 de outubro.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 21/10/2015.
*Cecília Meireles
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