Passeio pelo Pomar

Passeio pelo Pomar

Passear pela livraria como quem passeia por um pomar em uma tarde qualquer de domingo.

O aroma das grandes idéias. Pequenos frutos belos e inacabados abrigam poderosas sementes. A idéia das idéias que governaram e que ainda governam o mundo.

Estico os olhos e estendo as mãos, toco no dia em que Nietszche chorou; estico um pouco mais e alcanço a lisura da capa do E.Kant em a critica da razão pura. De longe vejo o Despertar de Finnegan e penso no oceano de idéias pelo qual ainda tenho que navegar com Ulisses, que como uma esfinge parece me dizer “leia-me ou te devoro"

Olho para a terceira obra poética de Borges, e com ela viajo para Alexandria, e Virgilio mostra-me um oceano ainda maior de livros, tão grande quanto o número de estrelas do céu.

De repente penso que o segredo está em saborear vagarosamente um fruto de cada vez neste misterioso pomar.

Pergunto-me, Qual será o livro dos livros, aquele que contem a mãe de todas as idéias; a Adélia Prado certamente diria que são o livro de Deus e o livro do João. Creio que ela está certa, mas mesmo assim penso também na Divina comédia que ainda não li.

Meu Deus, parece que tudo já foi escrito, que tudo já foi dito.Neste momento, de traz da árvore onde estou,enxergo uma linda luz,um fruto pedindo para ser colhido, um livro do M. Quintana. Abro-o e leio um haikay que me encanta.

É outono, ai!

Melancolicamente

a folha cai!

Volto para casa feliz, como quem passeou pelos jardins do paraíso. Penso no que pensei antes, de que tudo já foi escrito ou dito e Lembro-me de um verso oriental que aprendi. A lembrança me trouxe o contraponto

"Existem muitas auroras que ainda não brilharam"