A Insatisfação do Profano
A Insatisfação está me conduzindo como um volante sempre presente, me aqueço em braços masculinos e produzo energia por meio de muitas bocas que insistem em me beijar. Todo o meu treinamento é pra superar estragos e evitar fadigas desnecessárias, talvez, você nunca entenda, mas está na hora de inverter os papeis. A gente sempre aprende a se encaixar ou então fingir isso.
Ontem, durante o enaltecer do dia, descobri a força que habitava em partes adormecidas esquecidas dentro de mim, com puro entusiasmo infantil, idealizei processos de vitórias que jamais chegarão a acontecer, mas, mesmo sabendo disso, optei por sorrir pra vida e pros sonhos mais doloridos. Quis viver uma pequena satisfação, mesmo que passageira, mortal, finita.
Peguei todo o brilho do momento e coloquei na minha sombra, não corria mais dela, não podia mais correr em círculos viciosos, não podia mais morrer às vezes, não era permitido sofreguidão sem causa. Por um momento, a felicidade era tátil, quase dava pra armazenar e eu me perguntava "O que fazer com tanta liberdade"? E sorria mais uma vez, e delirava, pois era algo radioativo, psicótico, alucinógeno, abstrato, poético. As cadeiras e os objetos pontudos faziam parte do cenário, não os via mais como ferramentas do suicídio, mas sim como força de trabalho humana, como natureza transformada em tecnologia. Eu amava tudo aquilo, meu sangue pulsava cada vez mais forte, o coração batia cada vez mais profundo, os prazeres da carne estavam tão vivos! Críticas foram designadas para um sala no subsolo, são alminhas de segunda mão, insatisfações ambulantes, cannabis soníferas. Eu precisava era de mais heroína no meu corpo, me elevar cada vez mais, encontrar-me com o profano.
Mas como toda epifania é curta, voltei pra insatisfação completa, concordei em consumir a cultura de massa, a assistir programas de segunda mão, a descobrir o já descoberto, a aceitar migalhas e compactuar-me com assassinos de almas por pura conveniência social, voltei a receber propostas indecentes, a aceitar algumas, a consumir em excesso e repetir tudo, de novo e mais uma vez, e de novo, over and over again.