POESIA DE VIDA
(Claude Bloc)

 
Quando escrevo, as palavras vão se alinhando pacientemente nas linhas, esperando que eu coloque sobre elas as minhas emoções. Às vezes acordo vazia, etérea, sem forma e sem cor, sem palavras. E o que tento escrever acaba por não preencher esse vazio...
 
Meus pensamentos parecem amanhecer esmigalhados pelas emoções e minha alma se evapora tirando o fôlego da minha poesia de vida. É isso. Me disseram certa vez que vivo poeticamente, que minha realidade são versos, mas quando a rima não chega a beleza de todas as coisas se apaga. Posso garantir.
 
Esse tipo de sentimento me acompanha, mas se engana quem pensa que a realidade não vem ao meu encalço. Muitas vezes escrevo fantasiando minha dor com sorrisos, minha solidão com gracejos. Porém percebo que pouca gente se importa com isso.  Aquelas palavras que saem da minha alma criativa só servem pra mim.
 
Então chega um dia em que a tristeza é maior que a poesia e o verso se perde na imensidão de uma dor. A realidade fica escondida em alguma fantasia e o mundo parece, então, cruel e assustador.
 
Escrever é nessas horas a redenção. Aqui, nestas linhas não preciso contar sempre uma história, mas muitas vezes calar um sonho e mergulhar num oceano purificador de todos os sentimentos.
 
Nesses momentos, uma parte de mim se joga nesse vazio, outra parte se esmera na poesia. Viver a poesia é buscar as cores num mundo em que o cinza se espalhou pela noite da incompreensão e do desânimo.