Eu não quero me deixar morrer
Há um tempo não tenho inspiração para escrever belos textos e continuar meu livro. Não sei se envelheci demais, apodreci intelectualmente ou os dois, só sei que aquela vontade de expor em palavras minha idealização de um mundo melhor foi embora, junto com minha ingenuidade, meu brilho nos olhos, minha vontade de mudar o mundo.
Possa ser que isso seja o processo de “adultecer”. Possa ser que, quanto mais o tempo passe, mais nos “adestramos” e nos tornamos apenas mais um. Acredito mesmo que todo adulto chegou a ser uma criança sonhadora, e que, depois de algumas muitas amassadas, assim como um pão num padaria, se torna numa bela massa pronta para ser assada.
A verdade é que eu não quero deixar de escrever, a verdade e ironia desse jogo de azar é que eu não quero me deixar morrer, me tornar parte dessa boiada sendo direcionada ao abate. Não, ninguém nunca disse que viver seria fácil, porém, ninguém nunca avisou que fomos feitos para nos apagar também, nem que chegaríamos num colapso social, e experimentaríamos o gosto do fim durante todos os dias.
A graça dessa brincadeira sem concreto objetivo é que parece nunca descobrirmos as respostas das perguntas mais simples e antigas de toda a humanidade, de que conhecimento se tornaria um fardo, pois, quanto mais sabemos sobre a vida, mais pesado se torna viver, e que, por incontáveis vezes, conhecimento não quer dizer sabedoria, necessariamente.
Algo que pouco sei é sobre o mundo, apenas suspeito que ele seja redondo por ser, na verdade, um ciclo redundante, em que não sabemos bem onde começa e termina, nem nossas vidas, nem a do outro, nem a do próprio mundo. Só consigo constatar: Viver é chegar ao fim e continuar vivendo.