DESPERTENCER

Não sei dizer com exatidão o sentimento de agora. A agonia de imaginar que não estava só, estando desnuda de qualquer possibilidade de companhia, deixou o tempo com um gosto meio amargo. Para não passar esse amargor adiante, atirei-me num abismo existente em mim mesma. O fundo do poço, tão escuro, sem pai e sem mãe, provocou uma dor intensa nas vértebras do pensamento desenhado pelo nanquim da memória já esmaecida. Me tire daqui, pensei gritar como se estivesse num sonho inoportuno, no meio da noite, numa cama que desconhecia. Talvez esteja com a mesma sensação de término que os amores que adolesceram em mim, costumavam deixar. Talvez. Vago sem certeza, pois perdi o prumo. O mar está imenso, mais do que costumava ser quando fitava o horizonte querendo crer que, um dia, teria chance de escapar daqui e de mim.

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 02/10/2015
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