Assim...ou nem tanto 12
O exílio
Cheguei aqui com o único propósito de te saber. Andei muito tempo entre destroços, caminhos sem identidade, sem as referências que levam os homens a aproximarem-se ou a evitar encontros indesejados. Importava que houvesse sol de dia e estrelas à noite. No mais, me bastava o silêncio sem fronteiras. Poderia sempre, nele, sentir o eco das palavras que nunca me disseste e imaginar a melodia de alguma serôdia primavera, de um ficar feliz só de te ver. E achei-te onde nunca suspeitei que estivesses. Como se encontra, em disfarce de pó e de nada, de nenhuma importância, um ser fundamental? E pensar que já desistia de ti e já de ti guardava a magoada ausência. Para os que o amor desertifica tudo o que veem é árido, tudo o que sentem traz a morte no bojo, como se, caída do alto de um voo lindo, a ave fosse aquele aglomerado de sangue e penas! E, por fim ali estavas, humilde e rara, mínima e invisível a olhos profanos. Para que crescesses te faltava eu, disseste. E chamaste-me, água. E confundiste-me com o tempo da espera. E olhaste-me outra vez, e outra vez me olhavas. E eu esquecia, eu ganhava asas e já muito alto ia quando por mim passeaste a beleza e me chamaste a viver-te em corpo, alma, humanidade. Renasci.