Quando ela chega
Quando ela chega.
Ergue-se em mim esta paixão infinda pela palavra escrita, pela emoção escancarada, pelos ecos que só os olhos compreendem a tez, ergue-se em mim, este amor inconfundível pela poesia.
Este ranger de dentes tão a revelia, essas luas que beijam o sol dos meus dias, ergue-se então em mim, o silêncio.
Como dono magnânimo de meus pensamentos, que escoam como água quente sobre meu leito de pedras. Ergue-se fulminante o instante frágil e tenebroso, onde nada mais existe, só o que vem como cachoeira, choro de Deuses, cristalina inexatidão.
Basta um único e ínfimo sinal dela, e sou novamente entregue, como virgem imaculada ao sacrifício do verso, sangro letras num prazer indescritível, que apenas finda quando me torno vazia, apenas o mais transparente invólucro do vento. Ergue-se então em mim, um olhar distante, um arfar aliviado, e um parto sem dor, com pingos de água de rio.
Márcia Poesia de Sá.