Manhã de 30 de julho de 2015

É importante saber em qual lado do disco está sua música preferida.

Sendo nossas almas transgressivas rompemos o cordão de isolamento; mas dado esse inusitado momento, ficamos com os rostos embasbacados, pois apenas trocamos os lados. E assim, com esses versos singelos, começo os rabiscos de hoje. Bem cedo, logo após o café, fui fazer minha meditação (por enquanto apenas quinze minutos em média). Larguei os pensamentos ao vento (coisa corriqueira, mas não desse modo), e esvaziei a cachola. Fui indo longe, longe... Mas a memória me furtou a tranquilidade e também a cena: lembrei-me de quando era moleque – uns treze ou quatorze anos –, voltava sempre da matinê da discoteca Help, na avenida Atlântica em Copacabana, e íamos (a turma do Bairro Peixoto) ao Mc Donald’s da rua Hilário de Gouveia; eu sempre estava sem dinheiro, então foram muito raros os momentos em que eu comi algo por lá (nem a casquinha de sorvete que era, na época, o produto mais barato), geralmente algum amigo me pagava uma Coca-Cola... E sobre esse ato que vou me alongar e que acabei ponderando na meditação. Sempre reparei que os funcionários pegavam suas pazinhas de alumínio e enchiam o copo de plástico com gelo antes de ir então ao bico da máquina que por sua vez o enchia com o refrigerante escolhido. Na minha vez de pedir eu montava meu teatro e sempre fazia uma voz meio rouca dizendo: sem gelo, por favor, estou com a garganta inflamada. Tinha realmente um fundo de verdade (bem no fundo) já que passei grande parte da infância com a garganta ruim... Mas isso não é desculpa, pois já tinha ficado no passado e há tempos que eu já não adoecia. Bem, quando conto essa história sempre comentam: “Coca-Cola morna ninguém merece!” – Concordo! E é por isso que eu sempre pedia para um amigo pedir gelo “extra”, e que por fim viria parar no meu copo após o meu primeiro gole. Lembrando-me desse caso acabo constatando que me virava, dava meu jeito, apesar de já ter tudo que precisava e ter uma vida satisfatória – apesar de já ser feliz – apesar de ter convivido na maioria do meu tempo com pessoas que tinham mais do que eu e ainda em minha vida eu ter flertado com a variante “ter dinheiro e não ter mais – ter novamente e perdê-lo...” (...) pensando assim acabo descobrindo um eu do outro lado do cordão, um eu idealizado, inócuo e alarmante. Sempre apreciava o lado oposto, pois confiava no embuste do sistema imputando em nossas mentes que quanto mais dinheiro você tiver, alguém, ou mais alguém você é. Há poucas décadas descobri essa farsa porque passando para o outro lado do cordão vi que continuava querendo sempre atravessá-lo e assim tornava-se um círculo vicioso e nada salutar. Hoje, me conhecendo, descobri que estou bem no centro ou de um lado ou de outro; então tenho a capacidade da mente limpa, aberta e clara para ver de uma maneira sensata e justa a qual lado é o certo estar e defender.

André Anlub