O COAXAR DOS SAPOS

No meu reino de fantasia não há cetro nem coroa, porém os jardins que o entretecem nascem ao rés dos cabelos olorosos, sedosos. Por vezes o espelho (da realidade?) reflete tanto que quase cega os olhos. Mercê de que a palavra poética aparece sempre em vestido de gala e vivencia esse estado estético em todo o momento, ela é uma donzela plebeia, talvez o mito da cinderela sem o sapatinho. Na juventude, eu queria ser o príncipe, agora me contento com o coaxar do sapo gordo que ribomba aos ouvidos desacostumados ao canto. Cada um canta à sua moda e jeito, sem afinação anterior ou naipes classificados. Nunca há de se esperar unicidade. O lírico diálogo entre os escritores é sempre uma festa inusitada. Poucas cinderelas travestidas de rãs e muitos sapos. Cada qual pensa que é mais bonito do que o outro. Bem, mas isto não importa e sim o convite ao canto geral. Quase sempre se morre na praia esperando o canto dos cisnes. Afinal, na vida, tudo é espetáculo...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5389551