Intermezzo I
Quisera eu ainda ter forças pra criar uma distopia.
Meu sangue, minha carne é letargia.
- Revendo meu corpo e até minha alma.
Estive tanto tempo preso na angústia da esperança, que as glórias de uma vida mediana tangenciaram a esfera de minhas experiências.
Ah, quão inócuos são os sonhos medianos!
Não tive vida mediana. Como poderia, então, criar heterônimos funcionais, como fez o Poeta?
Minha Opus se perdeu em algum momento entre a chama do cadinho e o enxofre da mistura. Pela Arte, criei-me dois: Matei um deles.
Nem para envenenar-me de chumbo tenho forças agora. Sou um alquimista de sombras, um eremita entre os escombros da torre.
Pesado é o véu que cai sobre meu rosto, empurra-me a cabeça para baixo, a mortalha espessa separa-me eternamente das núpcias da vida e da morte.
Apenas vejo a luz distante da lanterna que eu mesmo seguro.