Poeta de Relance

Ser poeta é um estado complexo do ser, o artífice necessariamente abriga em si criações que eclodem sem ele perceber, no entanto, o termo é uma simples  definição para quem faz composição na rua, no jardim, na festa ou no velório. Antigamente num passado não muito distante, o bom poeta era reverenciado por fazer verter lagrimas nos sentimentais através de uma folha de papel e uma caneta. Sua habilidade estava à mão, era como abrir a janela para obter a claridade do dia ou manusear a torneira para jorrar a água. De sua imaginação quando menos  se  espera nasce uma canção, um lamento, uma recordação, ou então de certa forma cria-se um novo mundo. Prosas, versos, curtas ou longas narrativas surgem de sua ousadia, a sequência não importa, elas surgem em compulsão. Hodiernamente não se passa pela mente dos que escrevem uns 
rabiscos ser considerado um gênio da literatura, pois ninguém ousaria carregar nos ombros uma responsabilidade como a de ser chamado poeta daqui e acola. Particularmente,  todos os dias preciso  escrever uma crônica, um poema, ou  uma canção, sobretudo quando estou acabrunhada.
    Geralmente não consigo dizer para ninguém o que se passa comigo, pois, nem eu mesmo  sei de fato, de onde vem. 
Certamente uma  experiência como esta não é novidade para ninguém, não precisa negar ou afirmar coisa alguma, sei que ficará numa encruzilhada. No meu caso ficaria, sou introvertida o bastante para não correr o risco de uma exposição, mas quando pego numa folha de papel  me abro, é como se estivesse diante de uma amiga de infância. Eu sempre puxo a conversa: Olá tudo bem? Ele logo responde: Não muito bem, estou assim, assim, meio mal, igual a você, mas pode me dizer a verdade não se envergonhe, deixe a  lágrima cair e rolar, ninguém está vendo mesmo. Ele me encoraja a prosseguir, a rir dos meus defeitos e erros: "Vamos ache graça de suas gafes, faça piruetas, cante e dance". Confio nele, então dou boas gargalhadas, mas cuido para que ninguém me veja sorrindo. Então vou me abrindo e logo após o primeiro toque, meus dedos vão ficando ágeis, a mente colabora procurando o termo certo, aos poucos vou me sentindo bem à vontade. "Não se preocupe com o vocabulário, ligue para palavras bonitas". Assim vou lhe expondo os meus sentimentos, neste momento surge a alma do poeta, a coisa pública, um livro página aberta, sem omitir, camuflar ou encerar a realidade, neste momento sou inteira, chego ao clímax, me realizo quando pinto o mundo com palavras. E por alguns segundos deixo de ser eu mesma para ser poeta.

 

Marly Ferreira
Enviado por Marly Ferreira em 18/09/2015
Reeditado em 20/10/2024
Código do texto: T5386900
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