Cidade molhada
Agora eu já podia sair debaixo da marquise,
que me serviu de guarida na última hora,
já que a chuva agora corria na horizontal,
procurando a terra por entre os bueiros da cidade.
O lindo céu azul estrelado nem de longe lembrava o manto negro que que durante horas derramou,
um dilúvio que lavou a tudo nessa cidade cinza.
As luzes da metrópole, iluminando as calçadas,
competiam com as estrelas que agora podiam ser vistas, sem que precisássemos olhar para o alto e numa poça maior eu pude ver o céu bem perto a ponto de acariciar as estrelas.
E foi desse modo meio surreal que percebi,
que elas não são totalmente inatingíveis,
bastando que apenas possamos entender,
uma melhor e sutil forma de tocá-las.
Mas enquanto eu via poesia na chuva,
a cidade administrava seu caos diário,
de buzinas irritantes, pivetes cambaleantes,
com seu perfume de cola e bêbados,
que sem direção, pisavam Vênus,
sem nenhum remorso.
Agora só havia vestígios molhados,
que pareciam dar ainda mais brilho a tudo,
e a luz azul não vinha dos relâmpagos,
das nuvens negras que passaram por aqui,
mas dos letreiros das dezenas de bares,
que se preparavam para abrir para a Happy Hour,
que abrigaria os vários casais encharcados,
de chuva e de paixão!