Cidade molhada

Agora eu já podia sair debaixo da marquise,

que me serviu de guarida na última hora,

já que a chuva agora corria na horizontal,

procurando a terra por entre os bueiros da cidade.

O lindo céu azul estrelado nem de longe lembrava o manto negro que que durante horas derramou,

um dilúvio que lavou a tudo nessa cidade cinza.

As luzes da metrópole, iluminando as calçadas,

competiam com as estrelas que agora podiam ser vistas, sem que precisássemos olhar para o alto e numa poça maior eu pude ver o céu bem perto a ponto de acariciar as estrelas.

E foi desse modo meio surreal que percebi,

que elas não são totalmente inatingíveis,

bastando que apenas possamos entender,

uma melhor e sutil forma de tocá-las.

Mas enquanto eu via poesia na chuva,

a cidade administrava seu caos diário,

de buzinas irritantes, pivetes cambaleantes,

com seu perfume de cola e bêbados,

que sem direção, pisavam Vênus,

sem nenhum remorso.

Agora só havia vestígios molhados,

que pareciam dar ainda mais brilho a tudo,

e a luz azul não vinha dos relâmpagos,

das nuvens negras que passaram por aqui,

mas dos letreiros das dezenas de bares,

que se preparavam para abrir para a Happy Hour,

que abrigaria os vários casais encharcados,

de chuva e de paixão!

Leir Rodrigues
Enviado por Leir Rodrigues em 18/09/2015
Reeditado em 15/02/2019
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