TERNO ENTARDECER

Após um dia chuvoso, com estrondosas trovoadas e relampejos sinistros, enfim, uma trégua.

Esse dia transcorreu lentamente, sem muito que fazer, pois a chuva não nos permitia, sequer, apontar o nariz para fora da casa. Nossos anfitriões, muito solícitos e atenciosos nos entretinham com boas conversas, ora falando sobre a família, ora dos trabalhos na fazenda, recordamos também, de passagens engraçadas que há muito havíamos esquecidos.

Enquanto conversávamos, Ditinha, uma negra corpulenta e linda, já com seus setenta anos, preparava o almoço, me ofereci para organizar a mesa, o que foi aceito com alegria, também ajudei na preparação da salada - repolho, tomate, rabanete e pimentão verde, tudo fresquinho, colhido na hortaliça da fazenda.

Na verdade, não sentia fome, o café da manhã foi muito farto e esbaldamo-nos com todas as guloseimas oferecidas no desjejum, mas, não poderia fazer “desfeita” recusando o almoço, assim que, comemos de bom grado. Penso ser desnecessário narrar às delícias de uma comida caipira, preparada no fogão a lenha, tendo por sobremesa, compotas de doces de leite, mamão, figo e laranja da terra, pensem na riqueza dessas iguarias. Fiquei temerosa de ir embora dali com uns 300 kg além do meu peso (riso)...

O descanso após o almoço ou “cesta” como muitos dizem, foi inevitável, jurei nesse momento, não comer mais, nada naquele dia.

Dormimos cerca de 3hs., já refeitos de tantas gulas, decidimos caminhar um pouco, uma vez que a chuva cessara por completo. Queria subir o morro para ver o sol se pôr e resgatar algumas lembranças de quando ainda era criança, onde brincava e corria por toda aquelas terras.

E lá fomos nós, por um longo ”trieiro”, sentindo na pele a brisa fresca e a umidade do mato, paramos alguns momentos para uma “Self” em meio aquela paisagem linda. Chegamos ao topo do morro, que na verdade não era tão alto assim, mas estávamos quase “sem folego”.

Sentamos em uma pedra, eu e meu amado, de costas, apoiando-nos um ao outro, conversamos muito sobre diversos assuntos, mas, sobretudo, sobre as belezas e importância da natureza em nossas vidas. Recordei de muitos momentos ali vividos, minha mãe, meus irmãos ainda pequenos, ufffff que saudades... Lutando para não deixar a nostalgia sucumbir-me em prantos, olhei para o céu, afinal, essa foi a proposta para estarmos ali.

O sol baixava lentamente no poente e a sua volta formavam-se lindas áureas coloridas, numa mistura de amarelo e laranja. Deitamos sobre a imensa pedra para observar melhor aquele fenômeno da natureza e extasiamo-nos.

Agradecida, orei uma Ave Maria pela bondade e misericórdia de Deus em nos presentear com aquele terno entardecer.

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Eriem Ferrara
Eriem Ferrara
Enviado por Eriem Ferrara em 16/09/2015
Reeditado em 16/09/2015
Código do texto: T5384803
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