Madrugada de 15 de junho de 2015

Dizem que tudo aquilo deu em nada; mas se deu, já é alguma coisa.

Olho para um lado e olho para outro; vejo um muro alto – obstáculo – soltando seus tentáculos em um peso morto – não vejo nada novo –; e a essa altura do fato já estou farto do mundo me faltar o respeito e não ter, pelo menos peito, de se retratar. O melhor agora é abrir uma Coca-Cola ou um guaraná. Aceito palpite de quem me quer bem, quem está ao meu lado, dá opinião no meu sapato, na blusa, meus anéis e além; aceito o “spoiler” da próxima peça de teatro, do filme de hoje na sessão da tarde, das minhas contas no fim do mês. Quero sim saber o fim, não vejo problema algum nisso. É comum conhecer o final, é tão comum que o livro mais famoso do mundo funciona assim... Agora senti! É cheiro de jasmim; germina no seu ínterim, dá-se vivo no início imperceptível – abrolha –, e acalenta lentamente a mente, as narinas e a posteriori a alma. Não fazia parte dos planos os roubos no pouco tempo vivido em sacrifício ao nada, ao mínimo, à tumba de um Faraó Egípcio (gosto de Hórus) ou um Rei qualquer da Espanha. Vejo aquele ser dividido com a fé, aromatizado pela busca e automatizado pela brusca obsessão de ser o que já era e sempre foi. Veio o som aos ouvidos e a imagem à retina, e quebrando a rotina veio uma força perversa, atroz e atriz, levando-o com pressa sem ponto e vírgula, sem um minuto a mais; mais célere que o absurdo, como um raio no ímpeto de nem se fazer perceber. A história é longa, muitas linhas para contar, os caminhos muitas vezes são falhos e nos pregam uma peça sinistra e indigesta, incontestável ao clamar. Nuvens negras que aparecem atrapalham o nosso dócil piquenique de domingo. A vida é o assim: sopro. A energia desfaz-se no ar, voa e some na morte que subtrai e soma e come e traga e enterra e é negra, branca, amarela... qualquer coisa que queira ser e é; para vir e se mostrar ou se camuflar; ser bandida ou heroína, ser rainha ou vagabunda de esquina... Nada importa, se faraó, rei, rainha, ou outra coisa... Pois é escolha dela. Aquele pássaro amarelo nos deu bom dia, pousou na árvore, sorriu para a vida e nos fitou com esmero. Hoje as montanhas nos chamam; bocas verdes com hálito afável, olhos negros com visão sem limite. Hoje a vida é aquarela – gengibre – com ocre com pinceladas de azul turquesa. Vou esfriar a cabeça, tirar a mesa, lavar a louça e limpar o fogão... Até o próximo piquenique na sala; até o próximo inverno.

André Anlub