DOSES HOMEOPÁTICAS

Veneno ministrado

Em doses homeopáticas

Também causa danos e mata.

Julgamento impensado, quando externado,

Ainda que de forma simpática,

Com a melhor das intenções,

Também agride, também ataca...

Também fere e magoa...

Machuca os corações.

Pode ferir fundo feito faca...

Pode transformar uma gota em lagoa...

A gente pode discutir e ter diferentes convicções,

Mas o que me chateia, enormemente,

É sua forma tendenciosa de me interpretar,

De tentar me desestabilizar...

Sua forma psicanalisada de me analisar,

Ressaltando minhas falhas e defeitos,

Querendo que eu assimile o seu jeito,

Pondo em cheque minhas certezas,

Tentando derrubar minhas fortalezas,

Sem as quais, ainda não sei viver...

Preciso me sentir forte, ou “fodona”, como quiser...

Preciso me sentir segura, quase uma supermulher,

Pra não desabar, não me desintegrar, não desfalecer...

Se você gosta de mim, e eu creio que sim,

Eu lhe peço: Não faça assim!

Você já foi, por muito tempo, analisado...

Parece ter resolvido e feito as pazes com o seu passado...

Foi resgatado, regredido, reestruturado...

Construiu um novo ego, provavelmente,

Mais maleável, mais sábio, melhor preparado...

Eu, outras formas de agir e reagir ainda não sei...

Um outro tipo de ego, ainda não encontrei...

Só tenho este mesmo

Que, das porradas da vida,

Aprendeu a me defender...

Mas às vezes, meu ego tira férias e anda a esmo,

Quando brinco com minhas netas,

Sem compromissos ou metas,

Quando minhas poesias escrevo,

Ou quando em seus braços, em total enlevo,

Me aninho, me rendo, me aconchego e me entrego.

E é, então, que este meu bravo ego

Torna-se frágil, sem resistências e sem armadura,

E mergulha, inerme, no seu corpo, nesta aventura,

Nesta paixão louca, neste amor cego...

Agora, pra terminar este poema-dilema,

Pra esgotar este tema,

Esta discussão da nossa relação,

Dê-me uma explicação:

Você levou tantos anos

Para catar seus cacos e se remendar...

Por que acha que em um mês eu vou me consertar?