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Talvez um dia, em pensamentos densos de neblinas antigas, ergas à consciência tempos do teu passado e pode ser que as sombras cubram a tua face ao te lembrares dos pequenos delitos não ditos em segredo.

Talvez, em dias em que a solidão te roubar, sintas no teu ser um espaço antes preenchido por algo que lembrarás apenas vagamente, mas que suscitará sensações de infindáveis ânsias, possas compreender a verdadeira natureza do que foi e já não é.

Talvez, quando vires rostos estranhos irem e virem nas tuas calçadas, percebas que já houve porto seguro. E os estranhos virão e irão diante de ti e em cada silhueta e cada ruga procurarás os teus sorrisos de outrora.

Talvez, olhando o horizonte pegar fogo lembres.

Talvez... não lembres.

Talvez, ainda, ao fechar involuntário dos teus olhos cansados um último suspiro seja reservado para libertar toda a vontade tresloucada de gritar a plenos pulmões, que já não te servirão, todas as palavras não ditas e toda a palavra dita mas que não ouvistes porque não quisestes ou não te importastes.

Mas tudo que sairá será uma tosse pálida, brilhante metáfora de tua vida.

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 12/09/2015
Reeditado em 12/09/2015
Código do texto: T5379655
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