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Talvez um dia, em pensamentos densos de neblinas antigas, ergas à consciência tempos do teu passado e pode ser que as sombras cubram a tua face ao te lembrares dos pequenos delitos não ditos em segredo.
Talvez, em dias em que a solidão te roubar, sintas no teu ser um espaço antes preenchido por algo que lembrarás apenas vagamente, mas que suscitará sensações de infindáveis ânsias, possas compreender a verdadeira natureza do que foi e já não é.
Talvez, quando vires rostos estranhos irem e virem nas tuas calçadas, percebas que já houve porto seguro. E os estranhos virão e irão diante de ti e em cada silhueta e cada ruga procurarás os teus sorrisos de outrora.
Talvez, olhando o horizonte pegar fogo lembres.
Talvez... não lembres.
Talvez, ainda, ao fechar involuntário dos teus olhos cansados um último suspiro seja reservado para libertar toda a vontade tresloucada de gritar a plenos pulmões, que já não te servirão, todas as palavras não ditas e toda a palavra dita mas que não ouvistes porque não quisestes ou não te importastes.
Mas tudo que sairá será uma tosse pálida, brilhante metáfora de tua vida.