SEMPRE MÃE...FILHOS PRA SEMPRE
EMAIL recebido
De: Filhos néscios
Perdão Me perdi no mundo Não me esqueçaNão desista de mim
Para: Mãe Fio Terra
Após um bombardeio de torpedos, a mãe se aprofunda nas entranhas de suas raízes, e responde em carta, em letras de fôrma , escrita à mão.
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Amados filhos:
Meu coração é presente...embrulhado na saudade. Receba-o envolto em um lindo laço, sem nó.
Pressinto, precisar lhes dar um choque na memória, para que não percam os sentidos dos humanos tempos , de quando meus filhos eram naturalmente alimentados sadios, por direito, não tinham que adquirir alimentos, ora chamados orgânicos, selados, em garantia de “terra natural”. Vidas sendo contadas em bilhões, valoradas como cifras, a ganhar ou perder...
Pessoas é que eram orgânicas, crescidas sustentadas com o vigor da seiva, espontaneamente...
E quase todos nasciam, reciprocamente sentidos, com dores marcantes, e não pré- anestesiados por mãos fugazes.
Sorviam o leite materno enquanto dava, e após o desmame , o “in natura” da vaca, esta sempre muito dada, leitosa.
Reunidos, sentavam à mesa, saboreando a tradicional parceria: café torrado e moído, quase sempre “na hora”, de aroma contagiante, alcançando a vizinhança, com o leite A de eterno, até a última gota, tão fortificante que gerava manteiga de nata, acompanhados de pãezinhos cheirosos de farinha puríssima, dos campos cheios de trigo, recheados de queijo caseiro...
Tempos , de quando meus filhos brincavam soltos nos quintais e nos arredores, chutando a bola grande, ou manuseando , fazendo pipocar as pequenas, de gude.
Silenciavam ou gritavam no pique-esconde, disputando não serem “queimados”.
As meninas brincavam de roda numa ciranda, e, uma a uma , se postava no centro, recitando versinhos. Brincavam de “tra-lá-lá”, cantando...
”A carrocinha pegou três cachorros de uma vez, e bisavam... tralálá que gente é essa, tralálá que gente má...”
E , lembram ? ...alegravam-se, felizes, com o cheiro de chuva após a estiagem!
Juntos, meninos e meninas , saltavam poças e poçinhas, alguns até caíam no chão, voltando pra casa de fundilhos enlameados, E para que não chovesse mais, invocavam o sol, desenhando-o na terra com um graveto, circundando-o com sal!
E felizes iam para a escola, aprender as letras num musical, repetindo-as tal e qual, a junção da consoante com a vogal...b+a ba, b+e be, b+i bi, b+o bo, e ao chegar no b+u finalizavam em buuuuuu, afungentando o bicho papão. Que graça...
Liam e ouviam da mamãe, muitas historinhas de Monteiro Lobato: Memórias de Emília, Sítio do Picapau Amarelo, e outras e outras...
Como corriam as imaginações...como se todos morassem naquele sítio. As meninas abraçadas à sua boneca de pano Emília e os meninos seguindo o Conde Sabugoza...Como esquecer?...
Almoçavam juntos muita galinha caipira caseira com batatas deliciosas, com gôsto de terra fértil, nunca aguadas de lavadas, por dentro e por fora, feijão grossinho amarronzado com polenta frita de milho, e de sobremesa “chalaças”, passadas no açucar e canela...No lanche, chocolate da melhor qualidade, delicioso e cheiroso, e ora “bolinhos com gôsto de chuva”...
Ah! e quem quisesse comia PocPoc, muito batido, de ovos frescos, adoçados e misturados à farinha de mandioca e ou chocolate...Que delícia...
Aos domingos, iam todos à missa, bem vestidos e penteados, com honra de serem dignos de entrar na casa , muito bem cuidada, do Senhor Deus! …
E no dia de coroar Nossa Senhora, Sua Mãe!? As meninas imitavam anjos, diferentes uns dos outros, brancos, azuis-prateados, rosas e amarelinhos angelicais, com os trajes bordados à mão, com rococós e canutilhos, e como tal caminhavam... com lindas asas cobertas de peninhas brancas, com fitas de flores coroando suas cabeças. Era um dia majestático! Todos irmanados , especialmente os condutores das crianças magnas. Famílias reunidas, desejando serem abençoadas pela Divina Santa...
Estando já crescidinhos, meus filhos continuavam brincando juntos, à porta ou na escola, agora de “pera- uva- maçã”, disputando beijos sonhados...
E quando adultos , por serem amadurecidos na terra, amavam-na com paixão, cuidando, plantando, semeando alimentos e flores. Mesmo os distanciados , estando a conhecer o mundo, quase sempre morriam tranquilos, tendo provado e esgotado os tempos sadios, calorosos, vislumbrando, quando na hora, a liberdade eterna no Jardim do Éden...
Mesmo se não acontecesse uma vida longa, teriam vivido com a essência das qualidades naturais, terrestre, de calores humanos.
Mas não desisto de todos os meus filhos...
Através da tecnologia me verão cada vez mais em bela imagem 3 D, e me acessarão cada vez mais rápido em 3 4 5 G...trocando ideias, expressando-se lacônicos por emails frios, distantes. Contudo, continuarei sufocada de saudades, dos tempos em que me viam ao vivo, como sou, e das tantas horas que passávamos trocando energia e calor ...
Sempre mãe, esperando...prenuncio , que breve estejam de volta, formando a “Comunidade Quero Minha Mãe” , onde estarão juntinhos, numa busca de motivação e incentivo para o fim de suas tristezas, diante da ausência de sentimentos e de palavras de expressão...
Se cuidem, filhinhos...
Abraços e beijocas .
PS. Para Sempre...“Mamãe”.
Ass.: Mãe-Terra
“Em memória de mamãe, uma linda borboleta azul”