Se...

Se eu deixasse o amor, eu não teria estes olhos vermelhos e olhar perdido no nada, tentando encontrar no céu escuro um caprichoso brilho de lua, escondido atrás de nuvens que passam com pressa. Com que destino elas marcaram encontro?

É esta também a pressa dos apaixonados?

Se eu deixasse o amor, não contaria tanto com os sonhos que nascem das duvidas e se enraízam nos terrenos da fé, sem medida e sem razão.

Tomaria banhos de lucidez, na aurora dos pensamentos, estes que se desviam, depois que esta fera sentimental nos afronta com delicada perspicácia.

Se eu deixasse o amor, rasgaria os versos de solidão dos dias de procura, sem preocupação, lamento ou temor.

Faria de meus medos um motivo pra dizer não a esta coragem que o amor traz em suas armações, que nos faz caminhar de peito aberto em rumo ao risco, como se não tivessemos um pingo de apreço por nós mesmo.

Se eu deixasse o amor, talvez não precisasse dizer “eu te amo” e me sentir tão só.

Se eu deixasse o amor, talvez o amor me deixasse ir em paz, em direção a total desmotivação pela vida.

Se... eu deixasse o amor.