Quando a tarde cedeu aos encantos do inverno;

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Quando a tarde cedeu aos encantos do inverno, ela quis a todo custo saborear aqueles pontinhos brancos que desciam lentamente sobre o chão. Queria experimentar na língua aquele gelo; sentir como seria o atrito da alternância do quente no frio.

Abriu a boca. Desejou. Fechou os olhos. Sorriu ligeiro. Arrepiou todos os seus sentidos. Aquilo se derretia na língua e gelava os lábios e molhava os dentes. E a cada entreabrir dos lábios; os repingos eram inevitáveis pelo seu pescoço e pelo seu corpo. Agora eram as estalactites que suplicavam pelo calor da sua língua.

... Arrepiou e sentiu-se muito mais quente quando ele a olhava de longe. Corou as maçãs do rosto e ferveu por dentro. Abaixou e conseguiu um punhado de neve branquinha. Fingiu que fazia umas bolinhas. Na verdade, ela não sabia o que fazer com as mãos. Só sentia o coração fugir pela boca e um estranhamento jamais sentido.

... Petrificou quando uma folha solitária despencou da árvore e repousou delicadamente em seu peito. E de repente os túrgidos pássaros se acenderam com o lumiar de algumas luzes daquele vilarejo.

E com a respiração entrecortante; entrecortava-se também a noite com um manto que rescendia à quietude daquele inverno, que mais tarde arderia e esquentaria toda a neve.

Roberta Sá

Mais Alguém

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 07/09/2015
Código do texto: T5374142
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