Madrugada de 2 de junho de 2015
É tal espécie de bipolaridade que serve de pilha para a máquina viver
Tenho passado por fases boas e ruins em alternâncias incrivelmente rápidas, sem aviso prévio, sem extremismos de alegrias fúteis ou sombras de depressão. É algo incomum ao meu ser, mas não reclamo. Está se tornando rotineiro ao ponto de já fazer parte do meu estado de espírito e também o corpo e a mente completamente adaptados. É como uma bipolaridade salutar, que em fases “down” me levam a criar mais, não impedem minhas corridas, me calam um pouco a boca (coisa que prezo muito), faz-me cozinhar ainda mais e procurar abrigo nas leituras; nas fases “up” me embriago no café, me divirto com a tv e jogos online, também escrevo e leio, mas com menos afinco, e fico planejando viagens e sonhando alto com meu futuro; também quero debater todos os assuntos, pintar, fazer recortes de coisas inúteis e brincar com os cães – com a noção maior que a morte está perto para eles. Na fase ruim tenho um pouco de azia pela manhã, mas logo passa; na fase boa acordo bem, com fome e querendo logo cedo o cheiro do café fresco e dando bom dia a todos e tudo. É de um extremo interessante, o bobo palhaço e o ranzinza bobo palhaço. Vi cavalos apertando o passo em direção ao ocaso a cada caso do sol dar “boa noite”. Pelos meus olhos pude ver além do tempo. Com areia da praia construí castelos mágicos, com portas de palitos de sorvete e com a ideia de que seriam eternos. Pelo menos até a próxima ida à praia. Engenheiro e artesão de tudo que vai esvair-se em poucos minutos. Assim seguiu o vento retirando os grãos; assim seguiu-se as águas com a maré cheia e destruindo toda uma obra; assim veio os meninos mais velhos fazendo um campo de futebol e destruindo os castelos. Vi marcas de novidade em todos os castelos destruídos. Vi um futuro promissor e mais concreto, mais seguro e respeitado. Sinto muito e sinto muito quando um passado passa e me deixa uma razão para ser mais forte, porém com raiva – perda e olhares cerrados. A crueldade da criança sem seu doce e a doçura da criança sem ser ao menos mais criança. Nas mãos dos anjos os dados, quase sempre viciados. Nas mãos dos demônios os tabuleiros, quase sempre inalterados. Demônios estendem uma enorme mesa às cartas; Anjos estudam as cartas e as marcam com a mente; demônios roubam por serem demônios e errados; anjos acertam e fazem o bem por terem sempre seus motivos. Sem sombra segue o mal voando ao lado de todos. Anjos criam suas sombras com as mãos... Aves, elefantes, coelhos e tudo que a sombra pode trazer.
André Anlub