Madrugada de 22 de maio de 2015

As velas acesas e a chamas apagadas

Noite sabotadora. Bocas falantes que nada dizem atrás de um vidro falso que em breve o apagarei. Espadas reluzentes e sombras de guerreiros antigos duelam ao não sei o que, briga por não sei quem. Deve ser pela tal da esperança. Abomináveis os serem que caçoam da simplicidade dos outros, dando-lhes alcunhas fúteis e pejorativas, com pitadas de um deboche piegas de quinta para uma noite escura e fria de quinta. Talvez eu seja herdeiro do dom de poetar; muitos já disseram isso. Mas esse não é problema; o problema é eu não me importar com títulos. Ainda engatinhando, confesso, mas já aprendi o mais importante nesse caminho: humildade. Não somos melhores que ninguém e não pretendemos ser; se caso fossemos não assumiríamos tampouco abraçaríamos a arrogância que nos tenta. Palavras voam e somem; homens ficam (ou nem sempre); amigos ficam (ou nem sempre); parceiros ficam (ou nem sempre)... mas o caso é que as palavras sempre se vão... E o que pode valer mais do que quem está ao seu lado como fiel escudeiro, como amigo verdadeiro, quem é dos males o coveiro e o leitor fiel e assíduo de seus rabiscos? Nem mais uma palavra.

Segure minha mão e sinta minha pulsação, fortíssima. Ao seu lado suo, tremo, sinto-me como quem vai adoecer, sinto medo e coragem, paradoxo em combate dentro do meu Eu. Quero sua ajuda, seu cafuné – seu café – tudo seu. Deite-se comigo esta noite, me esquente e me aguente o tempo que for. Farei o mesmo a você. Hoje e sempre. Nosso leito está arrumado com lençóis de seda pura, travesseiros de penas de ganso e uma pequena luz fraca na cabeceira. Tudo mentira! Bem, a luz não... Cobertas de pelos de leopardo esquentam muito. A lareira está acessa e caso queira aumento o fogo (sem trocadilhos). As velas estão acessas e chamas balançam tortas com o vento frio que entra pela fresta da porta. Minha cabeça entorta e meus olhos saltam assustados com a imagem que vejo. O imaculado.

Onde está você? Não o corpo de carne e osso, mas sim a sua alma que com a minha fervilhava ao som do silêncio.

André Anlub