INSÔNIA

Três e meia da manhã

Quero dormir, mas o sono não vem

Imagens, idéias, lembranças, desejos

Uma prisão sem grandes

Uma agonia sufocante

A falta de alguma coisa – que tenho

Quero esquecer o momento

Mas não consigo escapar do presente

Imagens, idéias, lembranças, desejos

Levanto e começo um poema

Mas não me sai um título

Não me achegam as palavras

Insisto, labutando com o turbilhão de imagens

Idéias, lembranças...

Insônia – é a palavra que chega

Mas não é insônia o que sinto: é dor que não dói,

É ir e ficar, partir sem chegar.

É o parto de mim.

É um poema nascendo?

Deve ser; mas o sono agora me invade e domina

Três e quarenta e cinco

Estou quinze minutos mais velho

Mas não consigo a maneira certa de dizer

Que não é nada disso

Eu apenas não consigo negociar a passagem

Dos pensamentos para esta tela de cristal líquido

Não consigo transformar o abstrato (pensamento) em objeto concreto (palavras?).

Pensamentos não são apenas Palavras,

Palavras não são poemas,

O poema é a vida, com suas

Imagens, idéias, lembranças, insônias e silêncios.

XXX