QUANDO ELES CHEGARAM...

Eles chegaram como todos sempre chegam: pelos jardins sofridos, taticamente na calada da noite quando a ansiedade já urgia pelo dia.

A demanda por luz era alta e o crepúsculo apontava no horizonte a possibilidade da dádiva dum desconhecido a lhes chegar a oferecer vida àquele jardim.

Eram espertos e prenunciavam todos os sentidos angustiados.

Sabiam que seres não mais acostumados à liberdade de florescer a esses caberia qualquer chave como engano para tentar abrir suas algemas e lhes devolver o ar purificado ao futuro mais colorido .

Eram muitos seres os que ansiavam por vida e decerto lhes seriam um trunfo para que todas as flores acendessem a esperança perdida.

Quando eles chegaram parecia cedo, mas só muito mais tarde, talvez, entenderiam que seria tarde demais.

Falavam em nome das flores já mortas...discursavam poesia ao vento.

Hora do ocaso dum sol, onde meio distraídas, nenhuma delas ousaria prever se ali seria mais um dia que vinha ou a noite que se ia na promessa prometida de não mais voltar; então, armaram-se de palavras doces, retóricas incisivas, promessas fictícias, aos quais apenas o desespero não os identificariam com clareza utópica- a tempo!- de não se constatar tanto tempo perdido...

Quando eles chegaram já sabiam o que queriam.

E teriam todo tempo do mundo para a desconstrução dos horizontes sucessivos, suficientes para lhes revelar o furto dos reamanheceres.

Foi quando as flores entenderam que já não havia mais jardins.

O terreno já estava coberto de ervas daninhas...e florescer agora seria questão dum milagre.