Panela

Panela

E ela levanta-se junto como o Sol

acendia o fogão , e a vida recomeçava do mesmo jeito .

O leite fervendo , o aroma do café espalhando-se pela casa , a manteiga Itacolomy , e muitos , muitos pães , a porcelana que o Rogério presenteou

cheia de laços de fita cor de rosa .

E a meninada acordava-se com o arrastar das sandálias do papai , ou com o cheiro de seu cubano roliço .

O enorme banheiro congestionava , bem que poderia ser dois , corre-corre ,rebuliço , relógio ...

E ela cozinhando e cantando , " Por que não páras relóóóógio "

E assim foi a minha , a nossa vida , por anos sem fim .

E a panela de arroz , que ao meio dia ficava sequinha , vazia , quase lambida , éramos só treze , treze bocas ,treze cabeças , treze filhos ,cinco filhas oito filhos treze , treze .

Mas o relógio não parou .

O relógio carrilhão não parou .

E a vida veio , a vida foi , a vida não retornou .

O maldito relógio não obedeceu .

Por que não parou relógio infame ?

Ela se foi , ela se foi , ao último som das badaladas do relógio do tempo , e o tempo não parou e nem olhou para trás .

E a panela que um dia foi dela ?

A panela que foi nossa ...

Agora é minha .

E eu vou levantar junto com o Sol .

Vou acender o fogão e vou recomeçar a vida do mesmo jeito .

O leite fervendo , o aroma do café espalhando-se pela casa , a manteiga Itacolomy , e muitos , muitos pães ...

E assim será , assim foi e assim tornará a ser .

Serei ela ,serei eu serei nós .

Adriana Noronha.

ADRIANA NORONHA
Enviado por ADRIANA NORONHA em 28/08/2015
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