Um segredo
Minha amiga me contou que a amiga de uma amiga lhe revelara um segredo de arrepiar, daqueles de tirar o sono e impossível de acreditar.
O segredo é tão cabeludo que a amiga só confessou para essa outra amiga na condição e sob a promessa de pra mais ninguém revelar.
A coisa é tão séria, tão séria, que a amiga a fez jurar.
Acho até que você conhece essa minha amiga, mas na dúvida, melhor eu não arriscar.
Pois, quem revela o santo, o milagre quer entregar.
Não existe nada que aguça mais a curiosidade alheia que o segredo de alguém.
Ouvidos tendem a se multiplicar. Estica e até se espicha pra boca do outro tentar alcançar.
Alguns colocam a culpa nas paredes, que paradas lá, nada têm a declarar.
E as bocas, até são túmulos. Ah! o difícil é acreditar.
Segredos não são coisas boas. São pedras pesadas e pontiagudas, difíceis de carregar. Alguns são tão horripilantes que é melhor nem constatar.
Quem ouve, sofre. Porque, no fundo quer mesmo é compartilhar. Dá voltas e faz rodeios, finge querer suportar, mas não tira da cabeça até a língua comichar.
O tal segredo até ouvi, mas é um segredo, então não posso te contar.
A única coisa que posso adiantar é que é daqueles bem feios e você vai se escandalizar.
A minha amiga (que eu sei que você conhece, mas o nome não posso revelar), ficou tão chocada que a tal pedra pesada quis descartar, mas já era tarde demais.
Quem ouve um segredo, este fardo tem que carregar.
Segredos são pedras pesadas que doamos ao tempo para ele apagar.
Ele vai passando, passando devagar, chovendo e anoitecendo no mesmo lugar. Garoando e no sol secando, até a tal pedra se acabar.
Ou então, a guardamos num lugar bem secreto e se este lugar existir e se você conseguir encontrar, é lá que sua pedra deve morar.
Pois, uma coisa aprendi sobre segredos:
O seu amigo também tem um amigo em quem ele pode confiar.
A minha amiga, por exemplo, não via a hora de poder se esparramar.
E se pra mim, a pedra da amiga resolveu mostrar, certamente tinha mais amigos e podia confiar.
Mas, como as paredes têm ouvidos, melhor seria um lugar seguro encontrar.
No alto da torre mais alta que pode alcançar pegou a pedra da amiga, para uma outra amiga mostrar.
E pra sua surpresa, a pedra, em penas leves e bem pequenas resolveu se transformar. E seu azar foi tanto que neste momento o vento soprou e pôs as penas a voar.
E agora?
Segredos esparramados e penas espalhadas, nunca mais ninguém poderá juntar.
Edilene Ferraz