270 luas.
"Eu gosto de noites assim, que inundam. De luas assim, que sorriem como quando eu sabia ser feliz. Ou pensava saber. Quando o que importava eram alguns passos pela rua, debaixo de árvores e de luas. 270 luas e eu sorria por isso. Agora, o sorriso minguante da gorducha prateada parece tão inexpressivo, distante, sombrio. Triste. Acho que ela é meu reflexo, confidente que conta segredos pelas madrugadas de insônias. Confiei nessa lua meus sonhos e desejos. Agora, ela sorri por aí, espalhando meus segredos perfeitos e feitos para serem poesia em nuvens e chuvas.
Eu gosto de melancolia, mas me sinto inerte no tempo. Com cheiro de escuridão por todos os cantos. Sinto meu coração parando aos poucos e vejo pedaços dele por todos os lugares, como aquelas bolachinhas de café da tarde que se desmancham sobre a mesa. Nada consegue juntar, nada consistente o suficiente. Nada que possa fazer a pulsação manter o ritmo. Nada que seja o bastante. Nem mesmo esses sorrisos de luas que me encantavam. E uma dor que eu não sei de onde vem, uma dor que eu senti raras vezes, com perdas. Essas despedidas se tornaram constantes e rasgam os momentos de alegrias artificiais que me cercam noite e dia. E tudo fica tempestade. E tudo fica impossível. E tudo fica vazio e chato de um jeito estranho. É, eu me perdi no tempo. Eu fico redesenhando meu destino. E penso saber e enxergar, com toda essa tola convicção, todas as pinceladas do meu futuro. Eu vejo meu futuro como uma fotografia programada para ser revelada. Eu me perco muito a frente do que posso ir. Num labirinto surreal, sustentado pela imaginação. Eu me perco nesse espaço do tempo que não é do meu controle. Eu me perco, mas nunca me encontro