Mas o Sol é Loiro

Mas o Sol é loiro. Sol que arde os olhos e queima a pele, que traz saudade e enfurece. Saudade de momentos que nunca vivi, só pensei, planejei, mas ciente de estar longe de reproduzir.

Eu ainda me lembro de quando você adormeceu no meu colo, e eu desliguei tudo o que estava por perto, que fizesse barulho e que pudesse te acordar, inclusive desliguei eu mesma do mundo la fora, pra te admirar. Te ver dormir, foi quase uma poesia, e agora é essa aqui, mas sem a mesma alegria. Esta aqui só está completa de nostalgia, do seu beijo lento e dos seus olhos quase fechados, do seu jeito silencioso e concentrado, do seu bico de pato, pés delicados e dedos sempre estralados. Da sua voz de sono indo contra a minha agitação, da sua indiferença indo contra minha preocupação, da sua frieza indo contra minha comoção, da sua individualidade indo contra minha atenção, do seu "tanto faz" indo contra o meu "toma aqui meu coração'.

Bom proveito você não fez, até te deixei tentar outra vez, e outra, e mais uma... Suas promessas de mudança que nada se concretizaram, com o vento voaram, e nunca se realizaram. Minha pessoa que cansou, que tanto esperou, de nada adiantou. Tanto que eu falei, tanto que me entreguei, tanto que te acolhi, tanto que tentei te fazer sorrir. Pode ir.

Pela metade não quero, a metade não tolero, ainda que tanto te venero. Mas tudo passa, eu supero.

Mas abre o olho enquanto há tempo, perceba eu escapando pelos seus dedos enquanto ainda pode conter, aproveita enquanto ainda pode me ter, veja o que você pode perder enquanto ainda da tempo de ver.

Eu não mudaria nada em você, seus tiques e manias, que pra mim são melodia, suas cores, sabores, valores, que invadiram meu dia-a-dia. Seus tre-jeitos, chatices, defeitos. Eu amo o espacinho no seu sorriso, sua pinta na bochecha, quase igual a minha, o jeito como você toca, que chega a dar frio na espinha. Eu não mudaria nada, pois todas essas coisas fazem o seu sujeito, ser aquele que eu desejo de qualquer jeito.