Instinto

Sou um animal de rebanho.

Pronto, eu assumo.

Odeio beber sozinho;

Almoçar sozinho;

Me divertir sozinho;

Sou o tipico amigo-dependente.

Adoro falar dos livros que leio.

dos poemas e filmes que gosto.

Meus amigos?

Sou generoso ao ouví-los

Gosto de conhecer suas histórias,

Aguento de bom grado seus lamentos

Seus medos

Sou bom para guardar segredos.

Tenho tudo de um animal de rebanho.

Odiaria envelhecer em uma cidade grande

Onde nos tornamos invisíveis

Onde somente a gente envelhece.

Entre meus amigos, ninguém se aposenta,

se tornam consultores, palestrantes, membros de conselhos;

Não param nunca.

Mais triste do que não ter alguém para te coçar as costas,

é não ter ninguém pra zoar quando seu time ganha.

Por isso aprecio a vida no rebanho;

Vou voltar para Santa Rita, minha Paságarda.

Quero envelhecer com minha tribo.

Encontrar conhecidos na padaria

Ir até a esquina e topar com um amigo de infância,

ou um antigo professor;

Ir ao bar para a prosa do dia

e dar dois ou tres bom dia pelo caminho.

Ter amigos para zoar quando meu time ganha

e os deles perdem.

Amigos para Andorinharmos juntos o por do sol,

e lamentar que prostata já não está como antes;

Lá em minha Paságarda, elas envelhecem também;

Sabe, as garotas mais lindas da escola,

lembra delas?

Aquelas que não eram para o nosso bico.

E as que não eram tão lindas?

Elas também ganham rugas e cabelos brancos,

O tempo não amacia pra ninguém;

Bom! Hoje isso já não faz tanta diferença.

Interessante é que elas todas continuam meninas,

e nós continuamos meninos.

Se caminharmos juntos

Se envelhecermos juntos.

De vez em quando tomar umas juntos,

Lembrar de antigos carnavais,

e rir do tempo que passa.

É menos triste ser um animal de rebanho.

Ah! Mas advirto:

É preciso desenvolver alguns truques

para estar sozinho de vez em quando.

Ninguém é de ferro.