Caleidoscópio da Existência
Não me diga não!
Já ouvi demais esta palavra.
Não me afronte com negativas
nem, tampouco, com assertivas.
A vida e seus dilemas são muito mais do que estes pobres binômios!
Pois saiba que viver neste mundo-manicômio exige ir além da mera enunciação de sinônimos e antônimos
Para alguns mais é menos e para outrem menos é mais
para terceiros ah, tanto faz!
Há o discurso dos mudos,
o grito dos surdos, seja pela natureza, seja porque não têm vez neste cotidiano moribundo.
O silêncio dos loucos, a raiva contida dos deprimidos,
a obsessão dos histéricos e a histeria dos obsessivos.
As cortantes mágoas depositadas nos escombros do passado de uma família
e as confissões silenciadas pela perfídia.
Há ainda o choro risonho de um recém nascido,
que invade e devasta os tímpanos da alma amesquinhada pelo cotidiano enrubescido.
Portanto, deixemos de lado esse reducionismo
negativo e positivo, bem e mal e toda a sorte desse tipo de primarismo.
Brindemos, então, meu caro, à complexidade e às contradições da vida sem, contudo, esquecer que o único radicalismo a ser defendido é aquele que prega, sem pregas,
a afirmação contundente de que somos, antes de qualquer atributo singular, todos seres humanos,
prisioneiros do tempo, amantes dos sonhos,
expectadores de ilusões, reflexos e espelhos singulares do imenso caleidoscópio que é a mutante trajetória da existência.