Da série "CONVERSAS DE ESCRIVANINHA"
- baseadas em comentários que fiz a textos de amigos -
22:
Há um cansaço mais cruel que os demais:
o extremo cansaço de si mesmo - ,
que não se dissolve,
não se espanta,
não se aquieta,
não tira férias.
Ouvidos, olhos, boca,
pés, mãos, nariz,
nervos, sexo, coração
depõem armas...
Fibrilam.
Não mais reconhecem suas funções.
O pestanejar é febril.
Sabe, poeta, há dias em que me sinto estranha, desconhecida de mim. Prostro-me num canto, em posição única, e deixo-me ficar. Inerte. Invade-me a náusea sartreana. Por vezes chega-me um pranto que parece provir de há mais de século, de outra existência e nada posso fazer. Ele rola e apenas observo-o. Motivos? Viver talvez. Viver é ínfimo para tantos sonhos. Neles é que vivemos e somos inteiros. Viver dói. Viver frustra. Realmente somos possuídos por essa sensação. Ou será sintoma? Deve ser o preparo para a velhice, para fum em qualquer idade. Oode ser hoje... A etapa de não mais se esperar nem de crer na máxima poliânica. Não mais o "jogo do contente", tapinhas nas costas nem afagos de cabeça ou palavras de auto-ajuda. Sequern compensações. Não. O tempo é outro. Tempo seco.
Não sei se estou triste. Sei que estou diferente. Em tudo. Nas reações do corpo, nos insights da mente, na importância das coisas e pessoas, na indiferença dos dias, no vagar como me desloco em espaços pequenos. Quiçá também no modo como leio e interpreto o que li. Mais: no modo como escrevo e no que não consigo escrever mais. No amor silente, contido, tão singular.
Tempo desalentado, desbotado, passando depressa na sua lentidão, estramboticamente assim.
Suas saudações niilistas têm-me feito companhia.Acenos de identidade.
Se aos menos houvesse a chance daquela viagem onírica, o vinho numa noite estrelada no Bixiga em meio a poesias recitadas, os olhos úmidos de emoção...
__ Outras conversas e prosas: AQUI __